quarta-feira, 7 de maio de 2008

Onde os Fracos Não Têm Vez (Joen & Ethan Coen, 2007)

Com certo atraso, mas foi. E é o filme da década, além de um dos trabalhos mais bem acabados que eu já vi. É perfeito. Montagem estupenda; fotografia em tons áridos, mas abusando dos contrastes – e com utilização fenomenal das sombras da noite como mecanismo de suspense -; cadência impecável, praticamente musicada, lenta, mas sempre fluente [em alguns momentos chega a lembrar Hawks, tamanha é a precisão – em especial a dobradinha Rio Bravo/El Dorado]; manipulação de tensão sem igual, com a música ou com a não utilização dela – o silêncio nunca foi tão inquietante. Genial o lance dos hotéis, representantes da transição social tanto quanto o filme fundamenta a ciclicidade da corrosão moral [que tem na cena do acidente um microcosmo indestrutível], servindo ainda de palco para alguns das seqüências mais extraordinárias do cinema contemporâneo. E é curioso como o grande motivo para a existência do filme [a perseguição do assassino metódico e doentio ao homem que pegou a maleta de dinheiro] vai enxutando conforme o tempo passa, transformando-se em peça quase sem importância no terceiro ato – um exemplo brilhante de como se concluir um filme destruindo o clímax, ao invés de intensificá-lo. E os ‘brôs’ ainda pontuam a jornada com aqueles toques bem pessoais de humor deslocado de seu próprio universo e, ao mesmo tempo, sendo base de tudo. Chega ao nível de sarcasmo doloroso, implícito, porém indissolúvel das imagens. Sem contar que possui o vilão mais maldoso do cinema, o mais onipresente.

E não, não é o Barden. É o dinheiro.

Obra-prima.

TOP dos Coen
01. Onde os Fracos Não Têm Vez (No Country For Old Man, 2007)
02. Bartos Fink (Barton Fink, 1991)
03. O Homem Que Não Estava Lá (The Man Who Wasn't There, 2001)
04. O Grande Lebowski (The Big Lebowski, 1997)
05. Gosto de Sangue (Blood Simple, 1984)
06. Ajuste Final (Miller's Crossing, 1990)
07. Fargo (Fargo, 1994)
08. Arizona Nunca Mais (Raising Arizona, 1987)
09. E Aí, Meu Irmão, Cadê Você? (O Brother, Where Art You?, 2000)
10. Na Roda da Fortuna (The Hudsucker Proxy, 1994)
11. O Amor Custa Caro (Intolerable Cruelty, 2003)
12. Matadores de Velinhas (The Ladykillers, 2004)

12 comentários:

Lucas Murari disse...

Na minha opinião, eles não souberam terminar o filme e o desfecho chega até a "estragar" a obra. São os 15 minutos finais mais demorados dos últimos tempos.
Se não fosse por esse importante detalhe, até concordaria contigo que é o melhor deles, mas nunca o melhor da década.

Daniel Dalpizzolo disse...

Mas o desfecho é o mais condizente possível com o discurso, afinal, o personagem do Tommy Lee Jones é o verdadeiro protagonista do filme, um xerife com código de honra ainda preso ao velho oeste que não consegue se adaptar ao novo modelo de violência que a transgressão social construiu. O final é a coisa mais desesperançosa do mundo.

E é o melhor da década sim. Passou até Kill Bill. :B

Daniel Dalpizzolo disse...

Sem contar que é genial a inversão de expectativa que eles constróem com aquele anti-clímax todo.

Lucas Murari disse...

é aquilo que o genial carlão reinchebach definiu como "travestir insegurança e ausência de ousadia em discurso desmistificatório.". Faltou talento pros caras - ponto

Daniel Dalpizzolo disse...

Não consigo enxergar

1) Um filme com tanto controle sobre o próprio universo ser considerado fruto de 'insegurança e ausência de ousadia' e

2) Onde os Fracos Não Têm Vez ter sentido sem aquele final, já que o filme todo rodado antes daquilo serve apenas pra fortalecer as estruturas do jogo entre o velho e o novo arquitetado pelos Coen - e não creio que o objetivo tenha sido simplesmente dismistificar não, hein.

Mas cada um cada um. Não conheço esse Carlão, mas desde já não gosto dele, hehe - assim como de todos os críticos de cinema, etc.

Lucas Murari disse...

haha! Carlão não é crítico de cinema, é um cineasta paulista. Ele nasceu aí no teu estado, mas é muito pouco distribuido fora de São Paulo. Como diretor de cinema, ele manda bem. Esta quase a margem do cinema marginal. HAHA!

Parágrafo final da análise do Carlão sobre o filme dos Coen:

"Caramba, os Cohen, que habitualmente plageiam deus e todo mundo, poderiam ter aprendido as lições de William Friedkin; ou pelo menos, "citado" (leia-se, chupado) o magistral "Viver e Morrer em Los Angeles". Eu juro que pensei que iria sair da sessão de joelhos. Saí irritado! Trata-se do desfecho mais chato (dez minutos que parecem horas) do cinema atual."

Daniel Dalpizzolo disse...

Carlão poderia ficar só atrás das câmeras mesmo, hein.

Daniel Dalpizzolo disse...

Aliás, contestar o momento do filme em que o microcosmo de todo o discurso é apresentado, naquela seqüência grandiosíssima do acidente, é praticamente incompreensível. Vai entender.

Anônimo disse...

Bem mais que uma inversão de expectativa 'ishpérta' ou um simples reforço ao argumento do filme, o final trabalha os dois elementos transferindo as lentes da câmera para as lentes dos olhos, entregando-nos primeiro o choque e em seguida a decepção e a sensação de looongo percurso por nada, forçando-nos a entender como de nenhuma outra maneira o personagem do Lee Jones, numa transfusão da impressão dele em relação ao tempo e a humanidade para a impressão nossa em relação ao próprio filme. É a metalinguagem toda trabalhada em função de encomendar ao espectador um sentimento único. Que funcionou com o Carlão esse, apesar de ele não ter percebido...

Daniel Dalpizzolo disse...

Justamente por a visão do Lee Jones sobre o mundo ser o filme - e o pessoal se sentir estuprado por ter acompanhado essa jornada que de nada vale a não ser para promover um desencaixe ainda maior do 'protagonista' que nunca consegue acompanhar os fatos e sempre que tenta fazer seu papel é inútil - que o final é perfeito do jeito que é.

Boa intervenção.

Anônimo disse...

a prova que o tal carlão além de um completo imbecil, não entende NADA de cinema, é ele ter escrito "cohen" com "h".
é o melhor do ano disparado; da década eu teria de pensar, mas tá ali entre os primeiros com absoluta certeza.

Daniel Dalpizzolo disse...

uhauahuha, bat.