quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Tops das décadas

praticamente a mesma situação que a dos tops de gêneros, mas agora separando filmes por décadas. vale dizer que, dentre estas, minha preferida certamente é a de 1960, mesmo que a de 1950, 1970 e 1980 sejam fenomenais também - não tirando a qualidade das outras, etc.

década de 1940

01. Jejum de Amor (Howard Hawks, 1940)
02. À Beira do Abismo (Howard Hawks, 1946)
03. A Felicidade Não Se Compra (Frank Capra, 1946)
04. Pacto de Sangue (Billy Wilder, 1945)
05. O Tesouro de Sierra Madre (John Huston, 1948)
06. Casablanca (Michael Curtiz, 1940)
07. Vinhas da Ira (John Ford, 1940)
08. O Falcão Maltês (John Huston, 1941)
09. O Terceiro Homem (Carol Reed, 1949)
10. Interlúdio (Alfred Hitchcock, 1946)

década de 1950

01. No Silêncio da Noite (Nicholas Ray, 1950)
02. Janela Indiscreta (Alfred Hitchcock, 1954)
03. A Marca da Maldade (Orson Welles, 1958)
04. Hiroshima Meu Amor (Alain Resnais, 1959)
05. O Salário do Medo (Henri-Georges Clouzot, 1953)
06. Crepúsculo dos Deuses (Billy Wilder, 1950)
07. A Morte Num Beijo (Robert Aldrich, 1955)
08. Doze Homens e uma Sentença (Sidney Lumet, 1957)
09. Os Esquecidos (Luis Buñuel, 1950)
10. Morangos Silvestres (Ingmar Bergman, 1957)

dácada de 1960

01. O Demônio das Onze Horas (Jean-Luc Godard, 1965)
02. Meu Ódio Será Tua Herança (Sam Packinpah, 1969)
03. O Ano Passado em Marienbad (Alain Resnais, 1961)
04. O Anjo Exterminador (Luis Buñuel, 1963)
05. A Tortura do Medo (Michael Powell, 1960)
06. A Hora do Lobo (Ingmar Bergman, 1968)
07. Era Uma Vez no Oeste (Sergio Leone, 1968)
08. O Samurai (Jean-Pierre Melville, 1967)
09. Repulsa ao Sexo (Roman Polanski, 1965)
10. Blow Up - Depois Daquele Beijo (Michelangelo Antonioni, 1966)

década de 1970

01. Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Woody Allen, 1977)
02. Profissão: Repórter (Michelangelo Antonioni, 1975)
03. Gritos e Sussurros (Ingmar Bergman, 1972)
04. Apocalypse Now (Francis Ford Coppola, 1979)
05. Carrie – A Estranha (Brian De Palma, 1976)
06. O Discreto Charme da Burguesia (Luis Buñuel, 1972)
07. Quando os Homens São Homens (Robert Altman, 1971)
08. Taxi Driver (Martin Scorsese, 1976)
09. O Inquilino (Roman Polanski, 1976)
10. Laranja Mecânica (Stanley Kubrick, 1971)


década de 1980

01. Veludo Azul (David Lynch, 1986)
02. Depois de Horas (Martin Scorsese, 1985)
03. Um Tiro na Noite (Brian De Palma, 1981)
04. A Mosca (David Cronenberg, 1986)
05. Era Uma Vez na América (Sergio Leone, 1984)
06. Crimes e Pecados (Woody Allen, 1989)
07. De Volta Para o Futuro (Robert Zemeckis, 1985)
08. Nascido Para Matar (Stanley Kubrick, 1986)
09. Não Amarás (Krzysztof Kieslowski, 1988)
10. Fitzcarraldo (Werner Herzog, 1982)

década de 1990

01. Os Bons Companheiros (Martin Scorsese, 1990)
02. Crash – Estranhos Prazeres (David Cronenberg, 1995)
03. De Olhos Bem Fechados (Stanley Kubrick, 1999)
04. Barton Fink (Irmãos Coen, 1991)
05. Desconstruindo Harry (Woody Allen, 1997)
06. Antes do Amanhecer (Richard Linklater, 1995)
07. Festa de Família (Thomas Vinterberg, 1998)
08. A Estrada Perdida (David Lynch, 1997)
09. O Pagamento Final (Brian De Palma, 1993)
10. Jovens, Loucos e Rebeldes (Richard Linklater, 1993)
década de 2000

01. Kill Bill (Quentin Tarantino, 2003 & 2004)
02. Spider (David Cronenberg, 2002)
03. Império dos Sonhos (David Lynch, 2006)
04. O Homem Que Não Estava Lá (Irmãos Coen, 2001)
05. Match Point (Woody Allen, 2005)
06. Caché (Michael Haneke, 2005)
07. Femme Fatale (Brian De Palma, 2002)
08. Dogville (Lars Von Trier, 2003)
09. O Novo Mundo (Terrence Malick, 2005)
10. Cidade dos Sonhos (David Lynch, 2001)

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Boa Noite e Boa Sorte (George Clooney, 2005)

2,5/4
.
quem estuda, trabalha ou gosta de jornalismo, provavelmente deve ter conhecimento da importância midiática ao longo do período mccarthista, ou até mesmo dentro do contexto geral da Guerra Fria. é neste contexto que se insere Boa Noite e Boa Sorte, uma obra, acima de tudo, feita com carismática devoção à coragem destes homens que, desestituídos de medo, bateram frontalmente contra os atos cegos da elite política da época, embebida de um patriotismo doentio.
.
é um trabalho simpático, de conteúdo intrigante e, mesmo com a falta de um estilo mais solidificado na decupagem (o preto-e-branco da fotografia por si só não quer dizer nada), funcional, principalmente pela densidade e importância do conteúdo apresentado.

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Quem Bate à Minha Porta? (Martin Scorsese, 1967)

3/4
.
nem mesmo sua sobrancelha estava plenamente desenvolvida e Scorsese já produzia obras raras. esse aqui, junto de Caminhos Perigosos, funciona como uma peça bem singular e pessoal dentro da filmografia do diretor - até por retratar certos elementos de sua própria realidade no bairro em que cresceu, etc. enquanto no primeiro (no caso, o segundo, porque este foi feito antes) Scorsese pincela um retrato lindo de doer sobre uma relação de amizade tão forte que ganha contornos paternos, aqui ele mostra um pouco de sua visão do amor, da necessidade do sentimento dentro do meio em que estava inserido.
.
é um trabalho relativamente precário, em especial pela pouca grana destinada à produção, mas sensacional tanto na temática quanto nas idéias da decupagem, mesmo que a estrutura narrativa, por ter sido fermentada e cozida em diferentes tempos, funcione mais como uma colagem de diversas seqüências bastante espirituosas do que realmente como um filme. mas é ótimo de se ver, tem uma composição de planos bem forte e incomum, sempre buscando um diferencial estético, e algumas seqüências, como a cena de sexo surtada ao som de Doors, são inesquecíveis.

O Ano Passado em Marienbad (Alain Resnais, 1961)

4/4
.
e eu, na limítrofe cumística da minha ignorância, pensando que Resnais nunca pudesse superar a obra-prima que é Hiroshima Mon Amour. pois, em O Ano Passado em Marienbad, o cineasta francês não apenas excede estrondosamente suas qualidades na obra anterior, como também as potencializa de forma impecável, inserindo a temática já abordada (a memória) no campo onírico da mente humana (de onde, aliás, já é provinda), com um trabalho de câmera e montagem ainda mais genial, compondo centenas de planos orgásticos, movendo a câmera como um fantasma por entre os corredores longos e vazio do palácio e brincando com a percepção ocular e com a constituição da imagem.
.
o resultado é um esplendor de obra de arte, um ponto de enorme destaque dentro da história do cinema, uma poesia audiovisual que, durante uma hora e meia, te transporta a um universo surreal e completamente alucinatório, realizando uma verdadeira experiência com o espaço e o tempo cinematográfico e, não apenas isso, mas, principalmente, com o espaço e tempo na mente humana. porque, afinal, os fatos recordados são mantidos na mesma caixa que faz brotar nossa imaginação, abrindo possibilidades para uma fusão às vezes incontrolável, inevitável.
.
o mistério armado por Resnais é formidável, instigante e rende uma obra de arte absolutamente perfeita e indispensável.

Top Gêneros Cinematográficos

não tem muita explicação, é exatamente isso aí, minha classificação atual de melhores filmes pra cada um dos principais gêneros cinematográficos - dez em cada lista. os critérios para a definição dessa separação são extremamente pessoais, portanto, alguns poderão estranhar certas posições de algumas listas, mas a subjetividade me protege de qualquer coisa, até porque, essa história de ficar dividindo em gêneros é polêmica e muitas obras podem ser enquadradas em diversas categorias. o segredo é ter espírito esportivo.

Aventura

01. Profissão: Repórter (Michelangelo (Antonioni, 1975)
02. De Volta Para o Futuro (Robert Zemeckis, 1985)
03. O Tesouro de Sierra Madre (John Huston, 1948)
04. Aguirre, a Cólera dos Deuses (Werner Herzog, 1972)
05. Quando Explode a Vingança (Sergio Leone, 1971)
06. Fugindo do Inferno (John Sturges, 1963)
07. Lawrence da Arábia (David Lean, 1967)
08. Os Caçadores da Arca Perdida (Steven Spielberg, 1981)
09. Via Láctea (Luis Buñuel, 1969)
10. Uma Aventura na África (John Huston, 1951)

Comédia

01. O Anjo Exterminador (Luis Buñuel, 1963)
02. Jejum de Amor (Howard Hawks, 1940)
03. Depois de Horas (Martin Scorsese, 1946)
04. Sonhos de um Sedutor (Herbert Ross, 1972)
05. A Felicidade Não Se Compra (Frank Capra, 1946)
06. Weekend à Francesa (Jean-Luc Godard, 1967)
07. Doutor Fantástico (Stanley Kubrick, 1964)
08. Esse Obscuro Objeto do Desejo (Luis Buñuel, 1977)
09. A Regra do Jogo (Jean Renoir, 1939)
10. Quanto Mais Quente Melhor (Billy Wilder, 1959)

Drama

01. O Ano Passado em Marienbad (Alain Resnais, 1961)
02. Spider (David Cronenberg, 2002)
03. A Marca da Maldade (Orson Welles, 1958)
04. Gritos e Sussurros (Ingmar Bergman, 1973)
05. Taxi Driver (Martin Scorsese, 1976)
06. Era Uma Vez na América (Sergio Leone, 1984)
07. Viver a Vida (Jean-Luc Godard, 1962)
08. Crimes e Pecados (Woody Allen, 1989)
09. Os Esquecidos (Luis Buñuel, 1950)
10. Crepúsculo dos Deuses (Billy Wilder, 1950)

Ficção-Científica

01.
2001: Uma Odisséia no Espaço (Stanley Kubrick, 1968)
02. Alphaville (Jean-Luc Godard, 1965)
03. Laranja Mecânica (Stanley Kubrick, 1971)
04. Brazil (Terry Gilliam, 1985)
05. Dorminhoco (Woody Allen, 1973)
06. O Vingador do Futuro (Paul Verhoeven, 1991)
07. Eles Vivem (John Carpenter, 1988)
08. Fahrenheit 451 (François Truffaut, 1966)
09. Planeta dos Macacos (Franklin J. Schaffner, 1968)
10. Videodrome (David Cronenberg, 1982)

Guerra

01. Apocalypse Now (Francis Ford Coppola, 1979)
02. Nascido Para Matar (Stanley Kubrick, 1986)
03. A Última Noite de Boris Grushenko (Woody Allen, 1975)
04. O Encouraçado Potemkin (Sergei Eisestein, 1925)
05. O Grande Ditador (Charles Chaplin, 1940)
06. Glória Feita de Sangue (Stanley Kubrick, 1957)
07. Tropa de Elite (José Padilha, 2007)
08. A Cruz de Ferro (Sam Peckinpah, 1977)
09. Pecados de Guerra (Brian De Palma, 1989)
10. O Franco-Atirador (Michael Cimino, 1978)

Musical

01. Uma Mulher é uma Mulher (Jean-Luc Godard, 1961)
02. Dançando no Escuro (Lars Von Trier, 2000)
03. Hair (Milos Forman, 1979)
04. Todos Dizem Eu Te Amo (Woody Allen, 1996)
05. De Volta ao Vale das Bonecas (Russ Meyer, 1970)
06. Cantando na Chuva (Gene Kelly e Stanley Donnen, 1952)
07. A Noviça Rebelde (Robert Wise, 1965)
08. O Fantasma do Paraíso (Brian De Palma, 1975)
09. Moulin Rouge – Amor em Vermelho (Baz Luhrmann, 2001)
10. O Show Deve Continuar (Bob Fosse, 1979)

Policial/Ação/etc

01. O Samurai (Jean-Pierre Melville, 1967)
02. Kill Bill (Quentin Tarantino, 2003 e 2004)
03. À Beira do Abismo (Howard Hawks, 1946)
04. Os Bons Companheiros (Martin Scorsese, 1990)
05. Chinatown (Roman Polanski, 1974)
06. O Grande Golpe (Stanley Kubrick, 1956)
07. Scarface (Brian De Palma, 1983)
08. O Bandido da Luz Vermelha (Rogério Sganzerla, 1968)
09. Made in U.S.A (Jean-Luc Godard, 1966)
10. Ajuste Final (Joel & Ethan Coen, 1991)

Romance

01. O Demônio das Onze Horas (Jean-Luc Godard, 1965)
02. Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Woody Allen, 1977)
03. A Mosca (David Cronenberg, 1986)
04. Clamor do Sexo (Elia Kazan, 1961)
05. Um Corpo Que Cai (Alfred Hitchcock, 1958)
06. Hiroshima Meu Amor (Alain Resnais, 1959)
07. Kill Bill Vol. 2 (Quentin Tarantino, 2003 e 2004)
08. Cidade dos Sonhos (David Lynch, 2001)
09. Antes do Amanhecer (Richard Linklater, 1995)
10. A Primeira Noite de um Homem (Mike Nichols, 1967)

Suspense

01.Veludo Azul (David Lynch, 1986)
02. Janela Indiscreta (Alfred Hitchcock, 1954)
03. A Tortura do Medo (Michael Powell, 1960)
04. Blow Up (Michelangelo Antonioni, 1965)
05. Um Tiro na Noite (Brian De Palma, 1981)
06. O Salário do Medo (Henri-Georges Clouzot, 1953)
07. O Inquilino (Roman Polanski, 1976)
08. Crash - Estranhos Prazeres (David Cronenberg, 1996)
09. O Criado (Joseph Losey, 1963)
10. Ensaio de um Crime (Luis Buñuel, 1955)

Terror

01. A Hora do Lobo (Ingmar Bergman, 1968)
02. Repulsa ao Sexo (Roman Polanski, 1964)
03. Carrie – A Estranha (Brian De Palma, 1976)
04. Gêmeos - Mórbida Semelhança (David Cronenberg, 1988)
05. Império dos Sonhos (David Lynch, 2006)
06. O Bebê de Rosemary (Roman Polanski, 1968)
07. Os Olhos Sem Rosto (Georges Franju, 1960)
08. Os Inocentes (Jack Clayton, 1961)
09. O Iluminado (StanleyKubrick, 1980)
10. Inverno de Sangue em Veneza (Nicholas Roeg, 1973)

Western

01. Meu Ódio Será Tua Herança (Sam Peckinpah, 1969)
02. Era Uma Vez no Oeste (Sergio Leone, 1968)
03. Quando os Homens São Homens (Robert Altman, 1971)
04. Onde Começa o Inferno (Howard Hawks, 1959)
05. O Homem Que Matou o Facínora (John Ford, 1962)
06. Pistoleiros do Entardecer (Sam Peckinpah, 1961)
07. Três Homens em Conflito (Sergio Leone, 1967)
08. Matar ou Morrer (Fred Zinnemann, 1952)
09. Rastros de Ódio (John Ford, 1956)
10. Os Brutos Também Amam (George Stevens, 1953)

À Prova de Morte (Quentin Tarantino, 2007)

é mais ou menos aquilo que vem sendo dito por aí há um bom tempo. Tarantino de volta à construção das personas e da ambientação toda através dos diálogos coloquiais como em seus primeiros filmes, mas com um trabalho de câmera e montagem espetacular, seguindo o exemplo de Kill Bill, sua obra-prima e provavelmente o grande filme dessa década (as perseguições de automóvel de Death Proof, em especial, são impressionantes). a estrutura também é interessante, a narrativa dá uma sensação de dejá vù depois do primeiro ápice, com a reconstrução toda do terreno pra chegar a mais uma inversão de expectativa bastante alucinante, de forma semelhante ao que ele também faz em Kill Bill (mas não tão interessante quanto, claro). se funciona como homenagem, não sei, mas com certeza é divertido pra caramba. resta aguardar para saber se Grindhouse, em sua totalidade, montado da forma como originalmente idealizaram Tarantino e Robert Rodriguez, mantém a qualidade. quer dizer, isso se tivermos acesso a ele - caso contrário, a única solução será pegar na net mesmo.
mas de uma coisa podem ter certeza: lapdance = melhor cena do ano, desde já!

Os Olhos Sem Rosto (Georges Franju, 1960)

um conto lúgebre e aterrador sobre a culpa e todas as conseqüências que brotam em subseqüência ao seu despertar. na interface, é uma obra de horror de altíssimo nível, com um visual fenomenal no qual Franju (uh) realiza uma impecável miscigenação entre a sombriedade dos ambientes e da temática com a sofisticação impressionante de seus enquadramentos. mergulhando nesse universo recheado de mordacidade, Os Olhos Sem Rosto se mostra uma pequena e agoniante obra de arte dramática sobre o desespero de um homem procurando reparar seus erros à qualquer custo, além de uma pequena reflexão sobre a obsessão pela beleza estética, com algumas seqüências fenomenais (as cirurguias experimentais, filmadas com classe e sem qualquer pudor, são fora de série), um clima extremamente denso e um final impagavelmente punitório.

Rede de Intrigas (Sidney Lumet, 1976)

um ponto de partida sensacional levemente desperdiçado por algumas subtramas descontextualizadas (praticamente 50% das seqüências com a personagem da Feye Dunaway, por mais importante que seja), mas que consegue se manter em alto nível devido à acidez e à perspicácia de seu mote e, principalmente, pelo uso inteligentíssimo de uma ironia bastante corrosiva (o encerramento é absolutamente fenomenal). a direção de Lumet se mostra bem menos intrusiva do que em 12 Homens e uma Sentença, mas com alguns lampejos de gênio, no final valendo menos do que as sensacionais atuações de William Holden e Peter Finch (este, em trabalho extremamente eficiente e merecidamente laureado com o Oscar). vale como uma grande observação da alienação corporativa midiática do submundo televisivo (que, atualmente, tem uma abrangência muito maior e conscientemente degradativa).

Caché (Michael Haneke, 2005)

Haneke conhece como poucos a fórmula exata para extrair tensão do espectador. filmando em digital, utilizando o silêncio de forma magistral, misturando realidade e reprodução da realidade, deixando uma dúvida crucial a cada ponto chave, que martela na mente de forma brutal (afinal, está acontecendo ou aconteceu?), o diretor cria aquele que é um dos melhores filmes de suspense deste novo século, facinho facinho. e ainda estufa o peito e desenvolve um verdadeiro panorama de questões de cunho étnico e racial e conflitos políticos bem elaborados, que explainam uma realidade predatória do velho continente. e ainda cria uma das seqüencias mais memoráveis dos últimos anos, hediondamente hilária, que deixa um gostinho de humor negro delicioso (muitos podem achar chocante, wherever) - além do desenvolvimento brilhante de um final aberto dos mais geniais que existem por aí. um grande, grande filme.

O Segredo de Berlin (Steven Soderberg, 2006)

como temia, é mais um caso de narrativa boçalizada em prol da estética. o filme possui uma intenção interessante, se construíndo como uma homenagem ao cinema dos anos 40, em especial a Casablanca. o visual é lindo, recriando com propriedade a formatação de cinema do período, os truques de montagem, o uso das locações, etc. a decupagem (graças) foge à regra do cinema de Soderberg, e ele parece não perder a mão por isso. pelo menos ao longo dos primeiros 15 minutos. o que se vê depois disso é um conto frio e completamente imbecil, desinteressante, recheado de interpretações canastronas (no mau sentido) e que cansa mais do que uma corrida de mil metros rasos com barreiras de meio metro de altura a cada dois passos. sem contar que ainda consegue ser um poço de referências óbvias e infuncionais. decepcionantemente bestial.

Uma Mulher é uma Mulher (Jean-Luc Godard, 1961)

nos minutos finais do filme, um dos protagonistas dirige a palavra ao espectador e reflete: "não sei se é comédia ou se é tragédia, mas sei que é obra-prima". acobertado por seu já largamente conhecido manto de arrogância, Godard mais uma vez tinha razão: criara uma obra-prima, não importa a leitura que seja feita (que, na realidade, não caberia exatamente nesta dúvida). Uma Mulher é uma Mulher é, ao mesmo tempo, o melhor musical da história do cinema (mesmo sem ser musical), um exercício de estilo e experimentações técnicas e narrativas alucinante, uma comédia tão divertida que provoca um verdadeiro surto durante a sessão e, dando o toque final, uma singela homenagem às mulheres, à liberdade sexual e ao próprio cinema, repleta de momentos inesquecíveis. coisa de gênio, senhores.
.
sem contar que guardo um carinho bastante especial por este, por ser o filme preferido do meu grande amor, Verônica. coisa linda.

A Última Sessão de Cinema (Peter Bogdanovich, 1971)

Surpreendeu, de maneira extremamente positiva. Um pequeno e emocionante drama, verdadeiramente comovente, que se desenvolve no cenário interiorano estadunidense da década de 1950. Bodganovich acerta o tom tanto na condução leve de um material relativamente pesado, dramaticamente falando, quanto na forma contida, timidamente lírica de filmar. É um daqueles filmes que encantam simplesmente pela atmosfera em que somos arremessados e, na realidade, não é preciso nada mais do que ela própria para encantar. mas tudo fica ainda melhor porque ele vai muito, muito mais distante. É mágico, possui personagens cativantes e, o que é melhor, Cybill Shepherd interpretando uma garota virgem, sensual, que deseja a todo custo perder o cabaço. é aí que eu deliro.

Sem Destino (Dennis Hopper, 1969)

esse é menos um filme e mais um registro ideológico de época. provavelmente, o impacto que tivera antigamente foi bem maior (é incrível o que ele faz com as pessoas que vivenciaram o período), devido a uma série de fatores lógicos, mas ainda assim consegue se manter como um ótimo trabalho. é curioso como o filme se desenvolve de maneira semelhante a uma bebedeira, surtando gradativamente até chegar a um terceiro ato completa e deliciosamente "porra louca" (drogas + sexo + cemitério + "i'm dying!" + "in the name of the father, the son & the holly spirit", haha). mesmo que, cinematográficamente falando, não seja algo realmente memorável, deixa uma sensação única que permanece viva por um bom tempo. e eu acho o Dennis Hopper um cara foda pra caralho.

Quando os Homens São Homens (Robert Altman, 1971)

Altman filma como poucos, imprime um lirismo praticamente musicado na conjuntura dos planos, desenvolvendo assim uma das obras mais belas que este glorioso gênero possui. é magnífica a construção do protagonista, sempre expondo uma dualidade (em sentimentos, ações, etc) que falta em muitos westerns, possibilitando o amor e a frieza em um mesmo corpo, em um mesmo caráter - afinal, só assim os homens realmente são homens. por muitos, é taxado de anti-western, mas vejo nele muito mais de um drama intimista do que algo que realmente tenha desejado rasgar conceitos. no fim, uma obra-prima de qualquer forma, uma tentativa de ressurreição de um estilo cinematográfico que, infelizmente, praticamente faleceu com o fim da década de 1960. por sorte, existiram estes últimos suspiros.
E imaginem só se Matar ou Morrer tivesse um clímax tão precioso quanto o deste filme. o que faltou em pulso ao Zinnermann sobrou em preciosidade ao Altman neste aqui. uma pena, pois aquele possivelmente poderia pintar como um dos melhores filmes do gênero, não fosse a perda de empolgação nos minutos finais - os mais decisivos, praticamente a razão de viver da obra.

A Embriaguez do Sucesso (Alexander Mackendric, 1957)

a inescrupulosidade e a ganância que regem o enxame de abelhas do Quarto Poder são ingredientes dessa maravilha altamente explosiva sobre os bastidores da chamada "imprensa marrom". é impressionante o ritmo alucinante imprimido por detrás da estética simples, quase omissa, contando, para isso, com diálogos rápidos, ácidos, cortantes e certeiros, que pontuam com precisão os pouco mais de 90 minutos da obra - suficientes para a construção de um painel social impecável e extremamente denunciatório. Mackendrick caricaturiza a classe dos colunistas sociais e, ainda assim, consegue transpor realismo a cada frame, auxiliado pelas perfomances impressionantes de Tony Curtis e Burt Lancaster e, principalmente, pela relação desenvolvida entre suas personagens. enquanto uma está completamente embebedada pelo poder, a outra compra a primeira dose, em uma amostragem crassa de pura hipocrisia auto-canibalista. sensacional.

Viver a Vida (Jean-Luc Godard, 1962)

uma coisa em especial me toca de maneira rara nesta obra-prima de Godard (além de Anna Karina, é claro, maravilhosa como sempre): a maneira com a qual o diretor utiliza a imagem para passar sua mensagem, o conteúdo do filme. não há sequer um plano, um movimento de câmera, que não seja ABSOLUTAMENTE indispensável à impecabilidade do resultado final. um filme de pura e delicada poesia, que obscurece traços filosóficos por detrás de uma áurea magnetizante, que exala respeito à vida e à arte de viver com suas complicações (principalmente aquelas ocasionadas por nós mesmos). tão lindo, sensível e impressionante que conseguiu me extrair lágrimas, não apenas uma vez.

e pensar que Godard produziu este apenas dois anos após ter feito aquela verdadeira porcaria intitulada Acossado.

Seqüência inicial

Esse blog foi idealizado e, posteriormente, concebido como uma tentativa de se realizar qualquer coisa semelhante a um banco de dados, mas não exatamente um banco de dados, algo bem menos pretensioso. Na realidade, deverá ser mantido como um pequeno espaço onde postarei diariamente, ou quando realmente for possível, pequenos comentários a respeito de filmes que ando vendo. É uma idéia bastante simples e despojada, mas serve pra quem deseja acompanhar minhas opiniões sobre os filmes ou simplesmente ler um pouco sobre cinema, sob a visão não de um especialista, mas de um apaixonado.