sexta-feira, 2 de maio de 2008

Paixões Que Alucinam (Samuel Fuller, 1963)

Fuller mais implícito do que em O Beijo Amargo, um grande abuso de manipulação cinematográfica e filme de extremos, mas nem por isso menos interessante. A grande diferença entre os dois talvez seja o fato de que, embora mantenha seu estilo esfericamente amoral em ambos, este aqui depende muito mais do conteúdo do que da forma – que é bem pouco inspirada, aliás, construída através de uma narrativa em esquetes e com pouco apelo visual, ao contrário do outro. Mas é um catalisador sensacional de toda a estrutura social e histórica norte-americana, além de um interessantíssimo jogo de verdades e mentiras, que embora tenha como principal elemento o próprio truque com a sanidade do jornalista, traz como exemplo máximo a seqüência em que percebemos que a birra do negro com a própria raça nada mais é que um reflexo de sua condição de ‘espelho’ frente a um trauma social – mais Fuller impossível. Confesso que acharia muito interessante se tudo terminasse naquela seqüência efervescente de delírio torrencial, mas não se pode negar que o desfecho seja fundamentalmente orgânico frente à proposta do filme.

2 comentários:

Anônimo disse...

Dá mesmo, durante o filme, esta sensação de que ele está se alongando demais, sempre passando por um momento em que você pensa "putz, se acabasse por aqui...", mas o Fuller sabe o que faz. O resultado do todo desses últimos 10 ou 15 minutos de relação sexual entre a câmera e o público é um orgasmo rápido, irônico e absolutamente devastador.

Daniel Dalpizzolo disse...

Só não chamo o Fuller de filhodaputa porque outro 'tio Sam' patenteou o termo. Mas é bem por aí mesmo.