sábado, 12 de abril de 2008

Pickpocket (Robert Bresson, 1959)

Pickpocket é uma confissão. É o registro do remorso; do engasgo do desespero; da dor. Um produto da consciência do pecado. Uma invasão sem sobreavisos ao obscuro sobrado do arrependimento, onde vagueia o homem à procura de redenção. Pela melancolia do momento, é até curioso o fato de ser tão imprescindível a frieza da abordagem, a insistência no distanciamento daquele que é o principal pilar do filme: os sentimentos.

Porque Pickpocket é o registro de uma alma sob forma de um filme sem alma; duro; impenetrável – e, curiosamente, por isso mesmo, tão profundo. Uma dissecação com sobreavisos de um homem transtornado pela frieza que transpira a cada movimento. É o registro do vazio e do distanciamento que substraem um coração. Um engasgo de desespero que brota do desconserto. Um produto que perdura na inconsciência do destino. Uma auto-descrição impenetrável e tinturada de efeito bumerangue.

É o registro da busca de redenção sob forma de uma confissão que não pretende ser ouvida.

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