terça-feira, 29 de abril de 2008

Quanto Mais Quente Melhor (Billy Wilder, 1959)

Revi Some Like It Hot hoje, em um momento de ócio acadêmico – novidade – dentro do busão, esperando chegar a hora de voltar pra casa - tivemos a manhã inteira livre, já que choveu e o dia era específico para filmarmos as externas – uma cena de atropelamento – do nosso pequeno curta-metragem. A sorte é que eu tinha o filme comigo, na bolsa da minha namorada, pois iria emprestá-lo ao meu amigo caralhíssimo, Luis.

E como é bom rever um Wilder inspirado como esse. Talvez aqui esteja uma das grandes provas do por que de o Wilder possuir até hoje aquele estigma maldito de diretor-de-roteiros, que não era exigente com o visual e etc – uma bobagem desmedida, como já disse alguns meses atrás tratando sobre Farrapo Humano, outro Wilder excepcional. Um texto enxuto, preciso, classudo, ágil, sarcástico, cheio de analogias engraçadíssimas, tiradas e trocadilhos bem ao estilo dele e tudo mais. A sofisticação de Quanto Mais Quente Melhor só pode ser medida através da escala Richter. É uma coisa inenarrável.

E mesmo que saibamos de cor cada uma das piadas – não simplesmente por eu ter visto pelo menos umas cinco vezes, mas porque foram repetidas demais por todo o mundo nos anos seguintes – não tem como não gargalhar feito uma criança, ou pelo menos esboçar uma reação de encantamento com a delícia que é esse filme. E também não dá pra deixar de citar aquele canalha do Tony Curtis, fácil fácil um dos atores mais geniais que já pisaram em solo hollywoodiano.

Aliás, não saberia estimar uma única atuação preferida do cara. Escolheria pelo menos três. Essa, que na realidade é a menos exigente, mas a mais deliciosa de se acompanhar, pela troca de sexo de seqüência em seqüência e as bobagens que sucedem disso, certamente é uma delas. As outras duas acho que seriam as de O Homem Que Odiava as Mulheres – um filme muuuuito pretensioso, que poderia ter dado certo caso não contivesse aquela tentativa de inovação completamente datada do Fleischer na montagem -, no qual só aparece no terceiro ato – é o assassino – mas rouba pra si todos os holofotes, e A Embriaguez do Sucesso, obra-prima de Alexander Mackendrick , no qual trava um duelo perigosíssimo com Burt Lancaster pra ver quem é a grande figura do filme.

E nem é de Curtis que Wilder depende, simplesmente, em Quanto Mais Quente Melhor. Ainda tem aquele fodão do Jack Lemmon, absolutamente genial com suas caras e bocas absurdas, e Marilyn Monroe, que sempre dispensará comentários. E isso que eu nem citei o diálogo final, tipicamente wilderiano - em especial a última frase, uma das mais inesquecíveis do cinema. Coisa de mestre mesmo.

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