sexta-feira, 28 de março de 2008

Irmãs Diabólicas (Brian De Palma, 1973)

Psicose. Janela Indiscreta. Um Corpo Que Cai. Festim Diabólico.

Não são poucos os elementos conhecidíssimos através de obras como estas, todas elas realizadas por Alfred Hitchcock, maior homenageado de toda a filmografia do mestre Brian De Palma, utilizados para a composição de seu primeiro suspense psicológico, Irmãs Diabólicas. Mas é incrível como De Palma consegue imprimir um fôlego revitalizado a todos eles, dentro de uma obra que, a primeira vista, teria tudo para ser apenas mais uma cópia barata da obra do mais popular diretor de filmes de suspense de todo o cinema.

Irmãs Diabólicas pode ser um grande amontoado de elementos que evocam o cinema de Hitchcock, isto é inegável. Mas, em sua verdadeira essência, é um produto depalmiano por excelência, não apenas pelo tratamento visual inconfundível que desenha em qualquer filme que faça, mas sim pela forma com a qual o diretor consegue transformar o banal em algo totalmente novo, surpreendente, dentro da trama – que, na realidade, é o que menos interessa para o funcionamento do projeto -, fato que também permeia os principais filmes produzidos por ele.

A história sobre esquizofrenia, descrença e investigação amadora tem em sua abertura um dos maiores indícios dessa marca d’auteur de De Palma. No plano inicial, vemos uma garota cega adentrar uma sala e, aos poucos, começar a tirar a roupa. Detrás de um biombo, sai um negro, que a come com os olhos e tem seu olhar acentuado com um close profundo em seu rosto. Enquanto esperamos o desfecho mais absurdo possível, De Palma mostra que tudo não passa de uma brincadeira, apresentando ao espectador a verdadeira origem das imagens: um programa de televisão.

E nada poderia ser mais De Palma do que isso, afinal, brincar com a percepção do espectador e com a composição das imagens são algumas das mais fantásticas qualidades que o diretor desfila por seus principais filmes. Isto, claro, somado à sua perícia técnica fora do comum, das mais impressionantes já apresentadas, algo que fica claro neste seu primeiro trabalho de assinatura principalmente nas seqüências-chave, na composição dos planos que a estruturam e, em especial, nos artifícios utilizados para imprimir tensão – como, por exemplo, o uso absurdo da split-screen e das narrativas paralelas (o homem comprando o bolo enquanto a mulher passa mal no apartamento é coisa das mais incríveis que ele já filmou), dinamizando a ação e fazendo a primeira parte do filme beirar a obra-prima.

Quando o foco narrativo é atirado da protagonista principal, a tal “irmã gêmea”, para a jornalista sensacionalista que decide investigar por conta própria um suposto assassinato que teria visto pela janela do apartamento, o filme perde muito da emoção e da tensão em níveis desmedidos que vinham se construindo – não necessariamente representando uma falha na estrutura do filme, mas sim comprovando a força descomunal daquela primeira parte – nos primeiros 40 minutos, o que não é o bastante para consternar nosso ímpeto maldito de sair gritando pelas ruas escuras da cidade qualquer coisa parecida com “Brian De Palma, seu filho de uma puta, você é um gênio!”.

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