segunda-feira, 31 de março de 2008

Boêmio Encantador (George Cukor, 1938)

George Cukor perdeu a oportunidade de fazer um grande filme. Não que Boêmio Encantador seja ruim, embora não passe de um pequeno palco para o brilho de dois dos maiores atores que Hollywood já abrigou, Cary Grant e Katherine Hepburn, ambos impagáveis enquanto não são obrigados a fazerem merda em frente à câmera. Mas o resultado final, não fosse o fato de a abordagem dada pelo diretor-mão-furada, que conseguiu perder o rumo de filmes como Minha Bela Dama, trilhar um caminho oposto ao que transformaria a idéia do choque de ideais de vida de um burguês com um boa-vida tão interessante, decepciona.

Tanto que os melhores momentos do filme, invariavelmente, são aqueles em que Cukor simplesmente deixa Grant e Hepburn tomarem as rédeas da obra e fazerem o que bem lhes dá na telha, resultando em alguns momentos cômicos impagáveis – como a cena em que a moça sobe nos ombros do maior cômico do cinema para ambos virarem uma “cambalhota em dupla” no meio da sala (quando ela sobre nos ombros dele, o vestido cai sobre a cara e ele grita “hey, quem apagou as luzes?”, haha), sendo flagrados pelo pai de sua futura esposa, que, no caso, é irmã da personagem de Hepburn, pela qual Grant se apaixona durante a festa na qual será anunciado seu noivado.

Mas, na realidade, Boêmio Encantador não trata exatamente dos conflitos entre os dois personagens masculinos principais, o noivo e o sogro, mas sim de um romance construído quadro a quadro pelas duas “ovelhas negras” da estória. Embora conclua de forma bonita esse problema dramático da obra, tudo acaba se tornando muito simplório frente àquilo que a situação parecia desenhar, mesmo que em certos momentos Cukor ensaie um ou outro momento de sátira social ou qualquer coisa semelhante. Mas quando o diretor resolve construir uma densidade dramática maior do que a encontrada na primeira parte da obra, tudo acaba se perdendo em meio a cenas um pouco constrangedoras e, em muitos momentos, cansativas.

Se o filme fica longe de ser excelente, pelo menos os primeiros quinze minutos, feitos no melhor estilo “screwball comedy”, com diálogos e situações rápidas, fazem valer muito a pena. Grant dá show nesse ato da estória, faceiro, cheio de sorrisos e, em especial, surtando bonito ao conhecer a casa da futura esposa, da qual não conhecia praticamente nada, muito menos o fato de ser herdeira de uma das maiores fortunas de Nova York. O melhor momento cômico, embora seja irrelevante, é quando o mestre finalmente encontra a sala na qual deveria se sentar para esperar a pretendente e, quando percebe que finalmente está sentado, faz uma cara de WTF? e resolve levantar para dar uma cambalhota sobre o tapete. Aquilo é hilário demais.

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