domingo, 16 de março de 2008

O Criado (Joseph Losey, 1963)

"Eu quero que você faça...tudo", afirma o protagonista aristocrata de O Criado ao explicar ao seu novo servo quais funções deseja que ele cumpra. A senteça dá o tom desta relação desmedida, que congraça alcunhas predatórias conforme ambos adentram em uma sintomática inversão de patamares, alicerçada pelo domínio infame do corpo feminino sobre a mente dos homens. O principal mote, embora seja a gradativa troca de poder entre os dois protagonistas, acaba ganhando maiores contornos no terço final: é, acima de tudo, a derrota de ambos à mulher que os manipulou, e que permanece manipulando. a forma com que tratam desta angústia é genial, com Losey mostrando os dois, em seqüências recheadas de contextos homossexuais, jogando diversos jogos dentro da mansão embebida da degradação espiritual de ambos.
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A elegância do diretor em transmitir tudo isso, principalmente na composição visual, é impressionante. Alternando planos obscuros, abertos, fechadíssimos, cheios de sombras e filmando através de espelhos com grande freqüência e raramente mantendo a câmera estática, Losey constrói um clima soturno imprescindível, sofisticado até o ponto de dizer chega. Mas é de Dick Bogarde o grande mérito de tudo isso, pela composição de um dos personagens mais complexos e admiráveis (mesmo sendo um puta dum anti-herói. ou não) do cinema inglês.

Visto pela terceira vez e permanece genial.

2 comentários:

Anônimo disse...

Gostei bastante da idéia desse filme, Dan, esse tipo de degradação me atrai muito. Engraçado que me lembrei imediatamente da relação complexa (e pra mim mais interessante que a do protagonista, pelos mistérios que a cercam e que jamais são resolvidos completamente) entre o mordomo e a doentia personagem de Gloria Swanson em Sunset Boulevard (Crepúsculo dos Deuses). Normalmente nossas opiniões são diametralmente opostas, vamos ver o que acho deste O Criado, ahahah.

Daniel Dalpizzolo disse...

Espero que dessa vez a gente concorde, haha. A relação que você fez com a obra-prima de Wilder talvez não se encaixe tanto, pq o mordomo do caso não necessariamente estabelece uma relação de cumplicidade; a coisa é mais mordaz mesmo, hehe. Mas a complexidade existe nos dois casos mesmo, como você citou.